domingo, 25 de setembro de 2011

Os sapos- Manuel Bandeira

Conselho de hoje: CONHEÇA A LITERATURA MODERNISTA.


Os Sapos
( Manuel Bandeira)

Enfunando os papos, 
Saem da penumbra, 
Aos pulos, os sapos. 
A luz os deslumbra. 


Em ronco que aterra, 
Berra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi à guerra!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 


O sapo-tanoeiro, 
Parnasiano aguado, 
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado. 


Vede como primo 
Em comer os hiatos! 
Que arte! E nunca rimo 
Os termos cognatos. 


O meu verso é bom 
Frumento sem joio. 
Faço rimas com 
Consoantes de apoio. 


Vai por cinquüenta anos 
Que lhes dei a norma: 
Reduzi sem danos 
A fôrmas a forma. 


Clame a saparia 
Em críticas céticas:
Não há mais poesia, 
Mas há artes poéticas..." 


Urra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 


Brada em um assomo 
O sapo-tanoeiro: 
- A grande arte é como 
Lavor de joalheiro. 


Ou bem de estatuário. 
Tudo quanto é belo, 
Tudo quanto é vário, 
Canta no martelo". 


Outros, sapos-pipas 
(Um mal em si cabe), 
Falam pelas tripas, 
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". 


Longe dessa grita, 
Lá onde mais densa 
A noite infinita 
Veste a sombra imensa; 


Lá, fugido ao mundo, 
Sem glória, sem fé, 
No perau profundo 
E solitário, é 


Que soluças tu, 
Transido de frio, 
Sapo-cururu 
Da beira do rio...

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